segunda-feira, 25 de julho de 2011

São Tiago

A pergunta da mãe dos filhos de Zebedeu que se prostrava diante de Jesus com os seus dois filhos, Tiago e João, reflecte a ambiguidade com que o povo e os discípulos, inclusive aqueles que foram escolhidos - os doze -, compreendem Jesus, a sua pessoa e a sua mensagem, e o que significa segui-lo. Eles pedem um lugar de influência na política, um poder no mundo. A resposta de Jesus os força a uma mudança radical de prospectiva em relação a ele. Eles declaram-se dispostos a beber o cálice que ele mesmo deve beber. Trata-se de um reino, aquele que Jesus anuncia, que se encontra completamente nas mãos do pai e que se alcança com um caminho de dor e de paixão. Não qualquer paixão ou dor, mas a paixão e a dor do Filho, de Jesus. Para entrar neste reino, no reino do Pai, não basta beber o cálice mas é necessário beber do cálice de Jesus.
Os outros dez não têm uma opinião sobre Jesus diferente desta da mãe e dos filhos de zebedeu. Reagem com indignação e ciúmes. Todos pretendem o primeiro lugar ao lado daquele que esperam vir a ser o futuro rei de Israel. A lição que Jesus dá aprofunda até ao extremo o conteúdo paradoxal da acção libertadora- incompreensível para os homens, inefavelmente luminosa vista segundo o amor de Deus -: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. Daqui nasce a exigência fundamental de quem quer ser seu discípulo: a exigência do serviço que vai até ao dom da vida pelo Mestre e pelos irmãos.
Tiago, filho de Zebedeu assimilou a lição, rapidamente e de modo heróico. Foi o primeiro dos apóstolos a beber o cálice do Senhor. A sua primeira testemunha.

sábado, 23 de julho de 2011

como um tesouro!

Depois de ter-nos falado através de imagens de esperança (dois domingos atrás) e de tolerância (Domingo passado), o mestre Jesus conclui o seu longo discurso com outras parábolas que são breves mas incrivelmente estimulantes. O tesouro escondido, a pedra preciosa, a rede super-acolhedora. Ao termo desta iniciação aos mistérios do Reino dos Céus, o Senhor mostra-se serenamente preocupado em ter transmitido a sua mensagem de melhor modo: compreendeste todas estas coisas?
O que é este Reino de Deus que se desenvolve apesar das dificuldades, que cresce através da paciência e tolerância? Jesus abrevia as explicações, apontando ao essencial: “é semelhante a um tesouro escondido no campo” (Mt 13,44), a “uma pedra de grande valor” (Mt 13,46). Diante das coisas belas, aquelas que se encontram imprevistamente e se esperam desde sempre, uma pessoa tem uma só, universal reacção: “vai, cheio de alegria, vende todos os seus haveres e compra” (Mt 13,44.46) aquilo que encheu de encanto os seus olhos. A vida, segundo o Evangelho, não é um difícil programa de proibições e renúncias, mas uma alegre e interessante escolha das coisas melhores escondidas no campo da experiência humana. O evangelista Mateus viveu em primeira pessoa a verdade destas parábolas, talvez por isso é o único que se lembrou de as anotar no seu Evangelho. Ele um dia, enquanto cobrava impostos para o governo romano, seduzido e atraído pelo falso tesouro da riqueza, encontrou o rosto de Cristo e nas suas palavras de misericórdia uma beleza nunca vista antes. Levantou-se, deixou tudo e tornou-se discípulo do Reino dos Céus. A sua conversão por causa de uma maravilha encontrada revela o sentido da última parábola: “O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes...” (Mt 13,47-50). Quem encontra o belo se habituará a procurar e a recolher beleza e todas a direcções, sabendo muito bem que chegará o tempo para “distinguir o bem do mal” (1Reis 3,9). Quem entra nos parâmetros do amor não tem pressa em formular juízos, porque sabe que saber escolher (bem) o bem é o modo melhor para não temer aquilo que “será no fim do mundo” (Mt 13,49)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Além das lágrimas

Se os olhos - como diziam os antigos - são o espelho da alma, as lágrimas são a manifestação dos seus imprevisíveis motes. Quando o oceano dos nossos afectos se transborda através do pranto, muitas vezes estamos envolvidos nas trevas e na desolação de uma noite profunda. Mas uma noite que chegou ao seu coração é uma noite que se encaminha para o seu fim. Esta foi a experiência de Maria Magdala, umas das mulheres que seguiu e serviu o Senhor Jesus desde quando era em Galileia até a sua subida para Jerusalém (cf. Mc 15,41). Nas palavras de liberdade e nos gestos de amor do Mestre, Maria tinha finalmente encontrado alguém - e não mais qualquer coisa - pelo qual chorar. A esta mulher o Senhor Ressuscitado não exitou confiar “o primeiro anúncio da alegria pascal” (Oração Colecta) quando era “ainda escuro” (Jo 20,1), antes da aurora.
Mas à grandeza do dom corresponde a intensidade da esperança, por causa da qual sobre o seu “leito, durante a noite” (Ct 3, 1), Maria não foi capaz de permanecer. Levantou-se, fez “a volta à cidade pelas estradas e pelas praças” com um só desejo: “quero procurar o amor da minha alma” (Ct 3,2). O coração não teve medo de procurar daquilo que a faltava, desafiou a noite com todos os seus terrores. Maria Madalena foi “para o sepulcro”, antes da aurora, na hora em que ainda falta a luz, e próprio então “viu que a pedra foi retirada do sepulcro” (Jo 20,1)
O seu sofrido e apaixonado itinerário cumpriu-se através da lágrimas que, como um indispensável colírio do coração, purificaram a sua capacidade de acolher na realidade os sinais do seu amado “Senhor” (Jo 20,13). O cume dramático do seu caminho de obstinada confiança no amor do Pai manifestado na carne do Filho aconteceu exactamente no momento em que “não sabia” (Jo 24,14) de ter já alcançado o seu desejo profundo: “mulher porque choras? Quem procuras?” (Jo 20,15).
Tudo isto torna-se para a Igreja - para nós - um belíssimo evangelho. Nos momento em que temos a impressão de estar imersos numa interminável obscuridade, quando o peso da realidade nos parece insuportável, somente a imprudência do amor podem conduzir-nos ao encontro com o Senhor resuscitado. A esperança da vida que não termina abre espaços dentro de nós quando é ainda escuro, quando as coisas restam envolvidas na penumbra, privadas de sentido e direcção. A alegria da ressurreição de Cristo é um impalpável felicidade que não pode nunca ser agarrada - “não me segures” (Jo 20,17), diz o ressuscitado a Maria - mas sempre pode e quer iluminar o nosso rosto. Não é a solução de todos os problemas de uma vida que, no fundo, deve continuar confiada ao exercício da nossa liberdade, no entanto é forças nos pés e canto nos lábio. A ressurreição do Senhor Jesus, de facto, é um mistério que não poder ser entendido. O Ressuscitado pode somente ser encontrado e anunciado, ontem como hoje, além das lágrimas: “Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”, e contou o que Jesus lhe tinha dito.” (Jo 20,18)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ser padre!

Ser discípulo é um dom que recebi gratuitamente: escolhido respondi com o meu “sim”, embora pequeno e humilde. Em determinados momentos e lugares precisos da minha vida de jovem, Jesus irrompeu em mim através da sua palavra que, em algumas passagens, parecia ser escrita propositadamente para mim: quase escrita para ser lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos. Apesar de ser consciente disto, compreendi, caminhando sobre a estrada da minha história, o quanto é difícil viver plenamente a revolução profunda que a sua Palavra provoca.
Acreditando na promessa contida na sua Palavra e graças ao encontro pessoal com ele através de homens e de mulheres felizes que ajudaram-me a crescer todos os dias na minha adesão incondicional a ele, pronunciei, mais uma vez o meu “sim” ao grande dom do ministério presbiteral. A minha única ganância é servir a Deus e aos homens e mulheres do meu tempo como frade menor capuchinho, na Igreja de Cristo. E, como foi para Pedro, estou certo que o Senhor encherá a barca da minha vida. É difícil, eu sei, mas Jesus não cessa de dizer-me: “não temer, doravante serás pescador de homens”. Pescador de homens! Homem que pesca outros homens e mulheres no mar desta vida, no mar dos seus medos, das alegrias, das perguntas e das procuras insaciáveis, para ajudá-los a encontrar um sentido, um horizonte que se espalanca através do encontro com o Senhor. Esta Palavra a ouço para mim: tornar-me pescador de homens é o meu desejo e, ao mesmo tempo, promessa do Senhor. Uma promessa que me sustém mesmo quando o desejo se naufraga, mesmo quando parece que corro por nada, mesmo quando experimento os meus inumeráveis limites. O Senhor sabe que diante da sua Palavra recusei ficar sozinho na praia com as minhas redes vazias, seguro das minhas convicções e certezas, mas, confiando nele, fiz-me ao largo na expectativa de uma pesca maior. Recusei, tendo plena a aljava, guardar egoisticamente para mim a Semente da sua Palavra. O Senhor sabe que é sobre a sua Palavra- e sobre nenhuma outra- que joguei inteiramente a minha própria vida ao serviço transparente e apaixonado do Reino de Deus em menoridade, fraternidade, na paz e no bem! O Senhor sabe… e eu sei que “se não tiver amor, nada sou” e nada serei e sei também que “o amor não é amado” e é por isso que, tal como o Semeador, não cessarei, agora mais do que nunca, de espalhar com abundância a Semente da sua Palavra. Sei que não compete a mim escolher o terreno e, enquanto Semente houver, percorrerei os caminhos dos homens e semearei sem me cansar, em jardins espinhosos, em terra árida e infértil, semearei à beira da estrada, ainda que conheço os riscos de uma tal sementeira. Não desistirei. Não posso desistir! A força da Semente me impulsiona. Estou certo que algures haverá outra terra boa, como a de Assis, onde a Semente possa encontrar acolhimento e possa germinar, crescer e frutificar. Então teremos uma nova primavera de irmãos, novos Franciscos e novas Claras nesta Húmbria universal.

Atualidade

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É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

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