quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Procuradores e chamados!


Certas vezes, um encontro muda-nos a vida. É, por exemplo o encontro inesperado, casual, não preparado, não previsto do amor, que pode ser o clássico amor à primeira vista ou coisas do género. Outras vezes é o contacto com um personagem que te fez pensar com a seu testemunho, que não te deixa dormir com aquilo que diz ou com a sua pessoa que ti lê a vida e ti põe diante das tuas responsabilidades que não tinhas nem mesmo sonhado. Conduz a tua vida na normalidade e de repente começam a surgir dentro de ti muitos pensamentos e até pensamentos não banais, sonhos de um mundo melhor, de uma vida gasta e não egoisticamente possuída. E um dia uma pessoa que encontras te ajuda a esclarecer as coisas. Ou então estás triste, escravizado por pequenas ou grandes coisas que criaste com o teu vício. Ficaste demasiado apegado e por demasiado tempo a um hábito indecente, encontras uma pessoa, vês uma liberdade, um olhar límpido e ti ressoa dentro como um forte convite a mudar de vida e a envergonhar-te de ti mesmo. Aconteceu a mesma coisa a um grupo de pessoas, nem todos eram bastante jovens, alguns eram até pais de família… Passa Jesus que tantas vezes os tinha visto emersos nos seus afazeres, nos seus pensamentos, abarricados nos seus confins, os fixa e os chama. Tira-lhes a sonolência e projecta-os para um futuro diferente: “André não fique percorrendo este lago com as tuas redes a vida toda. Queres lançar-te na aventura do Reino de Deus? Saiba que não será fácil, mas eu estarei contigo. Estás interessado?” Foram e viram onde morava. A alegria da intimidade com Jesus desencadeia um “passa palavra” que nunca mais parou. André o diz a Pedro, chega aos ouvidos de Nataniel… A notícia corre por toda a Palestina e correrá por todo o mundo sem nunca perder a urgência e novidade. Desde então muitos homens e mulheres, jovens e adultos, velhos e crianças ouviram este convite e seguiram-no. É o mistério de toda a vida: procuradores (que procura) e chamados, livres e convocados, espontâneos e orientados, fascinados e empenhados explicitamente. Muitas vezes perguntamos quem ser na vida, como entender a quê fui chamado, qual é a minha vocação? É uma procura delicada porque a chamada de Deus acompanha sempre a procura do homem, com a sua inteligência, em entender os sinais que Deus nos deixa e que nos testemunham que Ele não nos abandonam nem mesmo na escolha do nosso futuro.

(Leia outros textos como este no boletim: "Eis-me aqui!" pedindo o seu exemplar através do e-mail: gilsonfrede@gmail.com)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pede à Quaresma que te ensine




Pede à Quaresma que te ensine
«E logo o espírito o impeliu para o deserto. 
E ele esteve no deserto quarenta dias, 
sendo tentado por Satanás» (Marcos 1, 12). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do deserto. 
Para que o teu coração se deixe purificar. 
Da tentação de tudo possuir. 
Do egoísmo do não-compromisso. 
Da ganância do isolamento. 
Ou da omnipotência de tudo realizar. 
E querer ser deus. 
E da ousadia de não saber esperar. 
E da certeza de possuir a verdade.
Pede à Quaresma que te mostre o caminho do deserto. 
Onde Jesus te dará o pão da Palavra e do silêncio. 
No deserto o coração saberá encontrar 
o silêncio que regenera e reinventa. 
No deserto o silêncio fará do teu coração uma fonte 
de onde pode jorrar a verdade de Deus.
«Seis dias depois, 
Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, 
e os levou, sozinhos, 
para um lugar retirado sobre uma alta montanha. 
Ali foi transfigurado diante deles» (Marcos 9, 2). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da montanha. 
Para que ouses subir ao lugar do encontro 
com o Deus da vida e da história. 
Na montanha contemplarás o Rosto. 
E fixarás nele o olhar. 
E descobrirás nele o teu rosto. 
E contemplarás todos os horizontes. 
Os do teu coração 
e todos aqueles onde o humano se espraia em tantos desafios.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da montanha. 
E ousarás descer para que o teu olhar de encantamento 
incendeie a vida por onde passas. 
E sejas sinal de ressurreição.

«Chegou, então a uma cidade da Samaria, chamada Sicar… 
Ali se achava a fonte de Jacob... 
Uma mulher da Samaria chegou para tirar água.» (cf. João 4, 5-7). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do poço de Sicar. 
Sentado à beira desse lugar de encontros singulares 
está Alguém que te oferecerá água viva. 
Outrora uma samaritana deixou-se enamorar 
pelo olhar e pelo coração livre de um sedento. 
Também ela não ousou recusar dessa água 
que sacia todas as sedes.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do poço de Sicar. 
Para que Deus se sente contigo e te sacie. 
E o teu poço-coração possa recriar-se e ser fonte. 
E alimentar outras nascentes. 
Também as que teimam em não jorrar. 
E saciar todas as sedes 
e as de todos os que se cruzam com a borda do teu poço.

«Partiu, então, e foi ao encontro do seu pai. 
Ele ainda estava ao longe, 
quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, 
correu e lançou-se-lhe ao pescoço, 
cobrindo-o de beijos» (Lucas 15, 20). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o abraço de Deus. 
O caminho para esse lugar onde a festa nunca termina. 
O caminho para esse lugar de onde saíste 
para viver a vida do sem rumo e do sem sentido. 
Porque querias ser livre. 
Porque querias escutar as mil melodias 
que ainda não tinham sido tocadas no teu coração. 
Em vez disso a vida empurrou-te para um lugar de desespero 
onde nem as bolotas eram tuas amigas.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o abraço de Deus. 
E ousa recomeçar. 
E ser filho. 
E vestir o traje da festa 
que o Amor prepara para ti a todo o instante.

«Não é preciso que vão embora. 
Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mateus 14, 16). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do coração do irmão. 
Daquele que está debruçado sobre o próprio coração em sangue. 
O coração daquele que a vida atirou para a beira da estrada 
e que agora espera um qualquer samaritano. 
O coração e a vida daquele que este tempo defraudou 
espera que tu sejas consolo e abrigo. 
Também abraço.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do coração do irmão. 
E ousa partilhar da tua pobreza. Daquilo que mesmo fazendo-te falta 
suavizará a dor de quem já nada tem. 
De quem já não tem onde morar ou de que se alimentar. 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da partilha 
e o coração do irmão pulsará com renovada esperança.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só: 
mas se morrer, produzirá muito fruto” (João 12, 24). 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. 
A cidade santa espera que os teus passos 
sigam firmes na senda d’Aquele que já fez o mesmo caminhar. 
Arrisca nesse seguimento. 
Mesmo que a luz teime em esmorecer dentro de ti. 
Mesmo que te impeçam de caminhar atrás do Mestre. 
A cidade santa espera por ti.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. 
Porque a vida e a felicidade que tanto desejas 
também passa por lá. 
Não ouses voltar as costas à cruz que a cidade te entrega. 
Segue atrás desse desejo de vida 
que nenhuma dor será capaz de enterrar. 
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. 
E deixa-te morrer. 
A terra que és será nova 
quando o milagre do grão de trigo irromper.
P. Manuel Afonso de Sousa, CSh
Diretor espiritual 
do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, Braga

sábado, 25 de fevereiro de 2012

converter e acreditar!

O velho arco de guerra dá lugar ao arco-íris da paz e da esperança! E o deus dos exércitos e da vingança dá lugar ao Deus da nova aliança! Pela primeira vez, e por cinco vezes, a palavra aliança vem à superfície das águas, depois do grande dilúvio, que regenerou a Terra. Noé e a família, juntamente com os animais que ele pusera na arca, foram poupados pelas águas destruidoras! O arco-íris que aparece, pendurado na parede das nuvens, em tempo de bonança, é agora o sinal desta nova aliança: Deus mostra ao mundo que depôs o seu arco. O pecado permanecerá ainda na terra. Mas Deus não permitirá jamais a destruição fatal da sua criação. O seu projeto de amor para a família humana vencerá. Deus tornou-se nosso aliado, passou-se para o nosso lado!Já nenhum pecado poderá levar Deus a destruir o mundo por Ele mesmo criado! A história assim relatada, nas primeiras páginas da Bíblia, pode parecer-nos um conto colorido, para ouvido de criança. Mas é mais do que isso. Diz-nos que, no princípio dos tempos, como nos tempos de agora, este mundo, que havia de ser a casa da vida, se tornou um caos, lugar de desordem e de morte. Resta apenas a arca de Noé, como casa da vida, onde há um pequeno resto, que é posto a salvo! A arca torna-se então uma espécie de terra flutuante e em miniatura, onde todos os elementos essenciais da vida são guardados! Esta arca de Noé tem, pois, um valor altamente simbólico. Ela lembra um ventre materno, onde a vida é guardada e defendida perante o caos exterior. E Noé, o construtor da arca, é aqui apenas o chefe de um grupo mais vasto, que ele representa. Há ainda a sua mulher, os seus filhos e as esposas dos seus filhos, numa palavra, uma família, que é poupada à destruição e fica como semente de esperança, de uma nova humanidade, em paz com Deus, em Paz com a criação. Também hoje “vivemos num mundo em que a família e até a própria vida se veem constantemente ameaçadas e, não raro, destroçadas” (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2012). A intervenção de Deus, pela promessa e pela aliança, consiste em preservar a criação e a família humana dos “assaltos” da corrupção e do mal, que a põem em risco, como espaço vital de cada ser humano! Assim, esta aliança com Noé, posto a salvo com a família, dentro da arca da vida, sugere a ideia de que, no meio deste mundo, a meter água por todos os lados, é preciso poupar a família à destruição, guardá-la a protegê-la, como verdadeiro tesouro! Ela é verdadeiramente “o mais rico património da humanidade”. Sem família, não há futuro! Façamos tudo uns pelos outros, pois nesta arca ou nesta barca, ninguém se salva sozinho. Não deixemos “ir por água abaixo” esta arca de aliança e de paz, que é a família humana! A família há de ser, por isso, no meio do caos e da desordem social em que o mundo de hoje vive, a verdadeira «arca de Noé», que nos serve de abrigo e refúgio! Irmãos e Irmãs: renovemos em nós mesmos, especialmente neste período quaresmal, a consciência da nossa Aliança com Deus, nós que fomos salvos pelas águas do Batismo. O Batismo é, na verdade, o sacramento fundamental em que se atua a nova Aliança, estabelecida em Cristo, que por nós morreu e ressuscitou! E, no meio das ameaças e das tentações a que está exposta a nossa vida, dêmos particular atenção à família! Perante os dilúvios que nos esperam, toca-nos abrir mais os olhos e procurar nos céus, em Deus, um arco-íris de esperança. E rezemos, em cada dia desta semana: Senhor, guardai este tesouro, que é a nossa família, e que nunca se quebrem os laços do teu amor em nós! “Senhor, fazei de mim, um arco-íris de bem, de harmonia, de esperança. Ele será um sinal da vossa eterna aliança!” Fonte: www.abcdacatequese.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Regressar!


Com o rito da imposição das cinzas os cristão dão início ao tempo da Quaresma. Entrámos num tempo especial para permitir ao Espírito Santo, recebido no nosso Baptismo, converter ao Evangelho os passos da nossa vida. Ao início deste tempo, não está uma nossa iniciativa, mas a indestrutível  vontade que Deus tem em encontrar-nos ainda. As cinzas marcam o início de quarenta dias, um momento favorável para voltar a Deus e a nós mesmos, como diz a voz do profeta Joel: “Mas agora, diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia”. (Jl 2,12-13)
A conversão, segundo o evangelho, não é um intenso esforço que somos chamados a fazer para apagar as asneiras da nossa vida. Aliás, muitos perfecionamentos da nossa humanidade são até contraproducentes, quando os fazemos para sermos vistos pelos outros numa luz melhor. Trata-se de um mau hábito que o Mestre Jesus no Evangelho deplora abertamente: “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu” (Mt 6,1).
A conversão se desenvolve, pelo contrário, a partir de uma nossa disponibilidade a deixar-se “reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20), e portanto a recomeçar a tecer o fio precioso da nossa humanidade na sua companhia. No segredo do nosso coração, no profundo da nossa verdade, o Pai espera encontrar-nos, na medida em que somos dispostos a reconhecer-nos pecadores, admitindo com sinceridade que somos um coração meio vazio, um misterioso caos de onde, às vezes, sai o mal. Senão ressoam sem efeito as maravilhosas palavras do Apóstolo que dizem quanto o amor precede e acompanha o nosso caminho: “Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus” (2Cor 5,21). Portanto mais do que uma conversão moralista, próprio de uma religião moralizada e asfixiante, trata-se de uma conversão teológica. Isto é, uma conversão que toca antes de tudo o nosso modo de pensar Deus e o nosso modo de tecer relações com ele. Só num segundo momento nos é pedido um passo em frente e uma consequente conversão moral. Bom caminho para todos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Toma a tua enxerga e anda!

Caros amigos e amigas, é a presença de Jesus que torna aquele lugar de Cafarnaum numa casa acolhedora, fraterna, rica de intimidade, onde as pessoas se amontoam nos recantos. Ali, S. Marcos revela-nos mais um traço do coração de Cristo: perdoa os pecados à semelhança de Deus. “Um paralítico, transportado por quatro homens” Ele não caminhava mas, quando as costas dos amigos o transportavam, parecia-lhe voar. Os amigos inventam uma estrada que antes não existia, desafiando obstáculos, proibições, regras de etiqueta… E, na força das mãos alheias, o homem paralisado e passivo intui antecipadamente a sua cura. Há um acreditar juntos e um acreditar pelos outros que contagia a fé, levanta sobre a multidão, deposita na casa de Deus os pecados e paralisias humanas. Os escribas, sentados numa esquina, criticam e são incapazes de acolher as surpresas de Deus. Ainda hoje, a paralisia mais perigosa reside naqueles que se vacinam contra a novidade e o milagre, incapazes de reconhecer e promover as sementes de Evangelho que germinam nos recantos da casa da humanidade, quando o Céu se abre, se rasga e se desvela para vir ao nosso encontro. “Filho, os teus pecados estão perdoados” E depois aquelas palavras inesperadas. O paralítico que procurava a cura para o corpo fossilizado encontra palavras paternais de perdão, que ressuscitam para uma vida nova, assinalada já não pelo egoísmo, mas pelo amor e pela alegria. O perdão não deixa as coisas como antes: é o ponto de partida, o início da viagem. Abandonar o pecado é sempre um “levantar-se, tomar a enxerga e seguir para casa”, levando a Deus por companheiro. Talvez tenhamos tanto a fazer para ter uma fé dinâmica, activa, capaz de superar obstáculos para chegar a Jesus. Ali, só é necessário escutar e deixar-se curar. E depois seguir em frente, passando da solidão da paralisia que torna inerte a vida para o prodígio de uma comunhão reencontrada, sem medo de mostrar a enxerga da enfermidade curada, para que todos possam ver as maravilhas que Deus realiza em nós. “Ao ver a fé daquela gente” Foi ao ver a criatividade e a potência do amor daqueles diáconos, anjos anónimos e servos do sofrimento humano, inventores de percursos inauditos, que o Mestre realiza o milagre. Os amigos, ousaram acreditar que o amor pode superar barreiras, até mesmo a da doença e a da distância. E foram correspondidos! O amor verdadeiro suscita generosidade, coragem, engenho e arte. Face à maravilha do amor humano, Jesus mostra a maravilha do amor de Deus. Não só os pecados são perdoados, mas toda a vida é dada em superabundância. E, no último dia, vendo a nossa fé e a fé dos nossos irmãos, Ele nos dirá, descobrindo o tecto dos nossos sepulcros e debruçando-se sobre os nossos leitos de morte: “levanta-te e anda! Ressuscita e caminha rumo à casa do Pai. Em ti existe uma vida nova”! Aí reside, caros amigos e amigas, a esperança do Evangelho!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ver claramente!


As leituras de ontem convergiam em dizer-nos que o nosso caminho, como homens e mulheres crentes, é sobretudo um problema dos olhos. Na imagem do cego conduzido por Jesus e, à parte, curado pela sua compaixão, podemos reconhecer um itinerário do qual temos todos muita necessidade para poder ver melhor a realidade

Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos chegaram a Betsaida. Trouxeram-Lhe então um cego, suplicando-Lhe que o tocasse. Jesus tomou o cego pela mão e levou-o para fora da localidade. Depois deitou-lhe saliva nos olhos,impôs-lhe as mãos e perguntou-lhe: «Vês alguma coisa?».”

Estranhamente, o gesto de Jesus não parece resolver definitivamente o problema. O cego consegue uma certa capacidade de ver as coisas, mas de modo desfocado e impreciso. Torna-se necessária uma segunda intervenção de Jesus, quase idêntico à primeira

“Em seguida, Jesus impôs-lhe novamente as mãos sobre os olhos
e ele começou a ver bem: ficou restabelecido e via tudo claramente.”

A carta de Tiago ilumina este mistério, afirmando que a salvação não consiste em lançar simplesmente o olhar sobre a imagem da salvação - com o risco que seja apenas superficial e estéril autocomiseração- mas em manter fixo este olhar até reconhecer-se plenamente envolvido na liberdade do Evangelho.
Para além da metáfora, trata-se de não limitar-se a escutar as belas coisas que a Palavra nos diz e nos mostra, mas permitir a sua declinação nos factos da nossa vida de todos os dias.

“Quem ouve a palavra e não a cumpre
é como alguém que observa o seu rosto num espelho
e, depois de observar a própria fisionomia,
vai-se embora e logo se esquece como era.
Mas aquele que se aplica atentamente a considerar a lei perfeita,
que é a lei da liberdade,e nela persevera,
sem ser um ouvinte que se esquece, mas que efectivamente a cumpre,
esse encontrará a felicidade no seu modo de viver.” (Tg 1,23-25)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Se queres, podes!

O profeta Isaías proclamava que o Messias viria para anunciar a boa notícia aos pobres. Jesus comentando este texto na Sinagoga de Nazaré, diz solenemente: “cumpriu-se hoje esta palavra da Escritura” (Lc 4,18-19). Mas Jesus veio para curar as doenças dos pobres, muitas vezes de maneira extraordinária ou prodigiosa? Certo, muitas vezes Jesus dá prova da sua misericórdia diante dos sofrimentos humanos. Mas em todo caso, estes são sinais do poder que o Filho do homem recebeu daquele que o mandou para libertar o homem de uma escravidão ainda mais profunda, de uma lepra ainda mais crónica, para libertar do pecado. Quem pode perdoar os pecados senão Deus? “Ora, para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: levanta-te disse ao paralítico toma o teu leito e vai para a tua casa” (Mt 9,6). O que tem Jesus? O que irradia o mestre para provocar no leproso esta súplica cheia de fé: “Se queres, podes curar-me”? Jesus aproxima-se do leproso: “tocou-lhe”; o leproso manifesta a sua confiança, a sua alegria, o seu testemunho. Não pode ficar calado. E nós? Nós somos a Igrea de Jesus que prolongaa sua presença e a sua obra no mundo. Em todos os sectores onde está em jogo a dor de qualquer homem, onde a sua dignidade de filho de Deus é em perigo, onde existe marginalização, qualquer que seja, lá joga-se a nossa credibilidade enquanto Igreja que leva a salvação de Jesus.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cura e serviço!

Jesus passa entre nós e nos cura. Nos regenerou e curou-nos com a graça do Baptismo e nos renova cada dia com a sua misericórdia. Somos salvados, mas o somos para sermos sinal de Cristo junto dos nossos irmãos e irmãs. A sogra de Pedro dá a cada um de nós o exemplo de quem, curada pelo Senhor, escolhe servir. A multidão procura Jesus por causa daquilo que ele diz e por causa dos sinais que opera. É a caridade que chama e a caridade é certamente o sinal mais luminoso e distintivo de toda a comunidade cristã. Mas para ser verdadeiros testemunhas e anunciadores do Cristo ocorre ancorar a própria vida na oração e na contemplação: Jesus se retira para pregar sozinho num lugar deserto e indica a estrada mestra que devemos seguir se quisermos ser seus verdadeiros discípulos.

Luz entre as mãos!

A liturgia da Festa de hoje abre-se com um sugestivo lucernário, um gesto fortemente simbólico que introduz a celebração eucarística. Todos os fiéis são convidados a acolher entre as mãos uma vela, e em procissão entram na igreja protegendo a vela “entre as mãos” (Cf. Lc 2,28) a luz, símbolo por excelência da manifestação de Deus. É um rito simples, mas rico de significado. Exactamente 40 dias depois do Natal, a comunidade dos crentes recorda que a “luz verdadeira” (Jo 1,9) - vinda ao mundo através da carne de Jesus Cristo - não quer ser apenas acolhida mas também restituída, para se tornar clarão “que ilumina cada homem” (Jo 1,9), lugar de salvação para todos. É um gesto que pretende imitar a atitude de Maria, a virgem que soube alargar os braços diante da irrupção de Deus no seu jovem seio, sem nunca considerar esta eleição “um privilégio” (Fil 2,6), mas sim um serviço assumido até ás extremas consequências: “uma espada de dor trespassará a tua alma” (Lc 2,35). O Evangelho ilustra a mãe de Deus exactamente assim, quando juntamente com José foi ao templo para oferecer o seu primogénito como dom “consagrado ao Senhor” (Lc 2,23), segundo aquilo que está prescrito na lei do Senhor. Neste acto de reconhecimento e de restituição, a Igreja reconhece a essência mais profunda da sua missão no mundo: acolher e oferecer o Salvador do mundo que redime a história passando através do frágil templo da nossa humanidade. Não é por acaso que neste dia a Igreja faça memória do dom da vida consagrada, a experiência de tantos homens e mulheres que, numa vida doada como e juntamente àquela de todos os irmãos e irmãs da humanidade, exprimem o desejo de uma radical dedicação ao Reino de Deus oferecendo-se aos irmãos como sinal que “pode e deve persuadir eficazmente todos os membros da Igreja a cumprir com dedicação os deveres da vida cristã” (Lumen Gentium, 44). Sabemos que a vida consagrada não se põe primariamente em relação com a estrutura jerárquica da Igreja, “todavia pertence inseparavelmente à sua vida e santidade” (LG 44). A vida consagrada é como uma chama que lembra à propria Igreja não tanto o que ela deva fazer , mas aquilo que ela é continuamente chamada a ser, antes e além de todos os empenhos assumidos: dois braços abretos que acolhem a luz da revelação de Deus e, ao mesmo tempo, a oferecem ao mundo através do testemunho de uma vida inspirada na lógica das bem-aventuranças. Assim mantém-se viva a recordação de que a “glória de Israel” (Lc 2,32) é a salvação que Deus oferece “a todos os povos” (Lc 2,31), desde o momento que Cristo decidiu ter “em comum” com a nossa humanidade “o sangue e a carne” (Heb 2,14). Por isso ele está em condições de “vir em auxílio dos que enfrentam dificuldades” (Heb 2,18) e de libertar todos nós “sujeitos à escravidão por toda a vida” (Heb 2,15)

Atualidade

O carinho do Papa Francisco que irrita muitos padres

É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

Aqui escreves TU