sábado, 30 de junho de 2012

"Talita Kum"





“Talita Kum”
O importante chefe da sinagoga, Jairo, num gesto de desespero e humildade, atira-se aos pés do Mestre e, com insistência, pede-lhe que lhe cure a filha. Acto de fé ou de aflição? Não sei, mas bem-aventurados são todos os Jairos desta terra que intercedem e perturbam continuamente o Senhor por causa tua e minha! Que incomodam o Criador até que ele entre na nossa casa, na nossa vida, mudando-lhe o rumo.
Cada um de nós é aquela jovem, na casa das lágrimas, que Jesus pega pela mão dizendo: Talita Kum! Levanta-te! Atreve-te a acreditar e a esperar! Acorda a vida adormecida que há em ti! Retoma a descoberta do amor e a alegria de viver! Cada dia é dia de Páscoa, de ressurreição!
“Tocar nas suas vestes”
A mulher, sem nome nem títulos, aproxima-se no meio da multidão de Jesus apenas para “roubar” o milagre, esperando que ninguém a veja tocar as vestes da graça. Há 12 anos que se esvaía em sangue e em solidão. Na verdade, tantos se aproximam, mas só ela lhe toca o coração. E aquela que sofria da hemorragia social e sentimental, despida das carícias humanas, é curada por um toque! É no calor de um gesto que Jesus “rouba” o estéril anonimato à mulher e a enche de esperança. Agora é filha, pessoa amada e tocada, moldada novamente do barro frágil e ressuscitada para uma vida nova.
Um Deus apaixonado pela vida
Duas pessoas, duas condições e dois modos diferentes de se aproximar de Jesus: uma proclama abertamente a sua fé; a outra manifesta uma fé silenciosa. No fundo ambas estão unidas pela confiança de colocar a vida nas mãos de Jesus. E isso para Deus basta. Bastam os nossos fragmentos frágeis de fé para que o seu coração vibre. E quando pensarmos que tudo acabou, Ele nos sussurrará: o teu coração não morreu, apenas dorme! Porque a vida não morre, apenas adormece. O encanto não morre, apenas entorpece. Para Deus a morte é uma ilusão, nunca a realidade! Muito em nós dorme, se esvai em anonimato e desfalece a vida. Mas porque o amor não conhece limites, Deus é capaz de atravessar o limiar do sono e da morte para, com o seu instinto de vida, nos repetir: Filho meu, levanta-te! Levantemo-nos, caros amigos e amigas, porque o amor não foi criado para morrer, mas para viver! E isso é Evangelho!

domingo, 24 de junho de 2012

São João Baptista

João Baptista é a única santidade humana - com excepção da bem aventura Virgem Maria- cujo calendário litúrgico recorda não só o momento da morte, mas também o dies natalis neste mundo. Se a figura extraordinária daquele que soube “dar testemunho da luz e preparar ao Senhor um povo bem dispostos” (cf. Oração Colecta) seria já motivo suficiente para explicar a singularidade de tal recorrência, as leituras escolhidas para esta solenidade permitem-nos ir mais a fundo, indicando-nos o nascimento do Baptista como uma “maravilha estupenda” (cf. Salmo responsorial) para a qual toda a Igreja pode voltar a sua atenção e o seu coração. A narração evangélica de Lucas, diz-nos que no dia da circuncisão todos os parentes e os amigos presentes queriam chamar o menino com o nome do pai, Zacarias. A este ponto a mãe, através da voz e o pai através da escrita impõe-lhe um outro nome que ninguém esperava: “João é o seu nome”. A diferença de significado entre os dois nomes não parece ser relevante: Zacarias significa “Deus recorda”, enquanto João significa “Deus usa misericórdia”. Mas entre estes dois nomes existe uma subtil, fundamental diferença. O primeiro é uma seta que indica para o passado, à história da salvação construída por Deus ao longo da história: as suas intervenções, os seus prodígios, a sua fidelidade. Sugere o critério em que o passado deve orientar o presente. O segundo nome, focaliza a atenção sobre o presente e sobre aquilo que o Senhor, hoje, tem intenção de operar. Promove o critério em que a actualidade da história é também livre dos seus condicionamentos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Procurar!


“procurar” é o verbo mais humilde e maior de toda a vida e de toda a relação… é, na verdade, muito bonito procurar: porque quem não procura é já um saciado que não sabe ir para além da sua soleira; porque quem procura sente, porém, a necessidade de procurar até quando já encontrou: visto que qualquer coisa, qualquer pessoa e, antes de tudo, Deus têm sempre novos horizontes para desvendar.
Um crente também deve procurar sempre: sim, para verficar a sua fé e alimentar a sua vida de novas profundidades, de novos modos com que Deus se apresenta. De facto uma vida inteira não chega para entendermos uma pessoa. Imaginemos então se basta uma vida para entendermos a presença de Deus! É bonito procurar ainda porque o amor se exprime não só no descobrir continuamente novas profundidades, mas no valorizar inclusive aquele dom que um fez nascer no outro. Porque quem procura é um generoso que descobriu em si tantas energias (físicas, espirituais, culturais, sexuais, e de fé) e quer partilhá-las; e ao mesmo tempo é um pobre mas sapiente, que conhece como os seus limites e as suas pobrezas podem sem superadas com os dons que sabe descobrir nos outros… cada um é aquilo que procura… se procuras a ti mesmo e não te deixes encurralar pela convencionalidade e não te deixes acorrentar pelo conformismo e nem mesmo te deixes levar pelas vazias imitações das estrelas (em Cabo Verde agora parece que tudo é (e)strela) e divas, descobrirás em ti a possibilidade de ser nova criatura em cada momento, em cada idade, não obstante tantas situações de monotonias em que estamos obrigados a viver. Procura, porque quem procura encontra. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ser Padre?


Ser Padre!? Quais os motivos fazem sensata e bela, hoje como ontem (talvez hoje mais do que ontem) a aventura de ser padre? O que pode atrair ao sacerdócio os filhos da “pós- modernidade”, tempo de solidão e de muita fragmentação, tempo privado de aganchos fortes e atraversada de inquietudes porfundas? Por mais paradoxal que possa aparecer, penso que o que ainda hoje torna atraente a vida do padre é simplesmente o seu colocar-se como uma misteriosa actualização do mistério da incarnação. O padre, totalmente de Cristo e como Ele totalmente para os outros e para Deus é um sinal eloquente para o nosso hoje! Antes de tudo o é porque, diante de uma cultura na qual o proveito e o interesse são apresentados como valores fortes, aos quais todas as outras escolhas da vida são finalizadas, o facto que existam pessoas dispostas a viverem uma existência para os outros, motivadas pura e simplesmente pela gratuidade, parece ao nosso tempo chocante e intrigante. Ser padre hoje não é certo uma “saída” para a vida de nenhum jovem. É um risco, uma aposta corajosa, que subverte a lógica da busca frenética do maior proveito e põe em primeiro lugar a beleza do dar-se. A força do padre está na sua fraqueza: é o não ter interesses partidários, o seu existir para os outros sem ter que contentar os gostos de ninguém a torná-lo credível. O padre é credível porque escolheu contra-corrente na medida em que quis e soube ser livre, inclusive dos próprios cálculos e do próprio proveito. Numa sociedade cada vez mais dominada pelo medo do outro, uma existência doada, jogada “somente” por um amor exigente e total, parece uma possibilidade de renascimento, um sinal de contradição subversivo e libertador, como o foi a do Filho eterno que veio na nossa carne por amor. Somente por amor. Ser padre? Porque não? Frei Gilson Frede, padre capuchinho

terça-feira, 12 de junho de 2012

Excêntricos!


As imagens escolhidas por Jesus para anunciar aos discípulos o sentido do seu existir não evidenciam somente as belas qualidades que Deus coloca na aventura humana. Dizem também quanto esta nossa beleza não seja - por sorte - um dom recebido para nós mesmo, mas exactamente o contrário: uma chamada a sairmos de nós mesmos, a vivermos uma pró-existência. “vós sois o sal da terra… vós sois a luz do mundo...” (Mt 5,13.14).
Existe alguma coisa de “excêntrico” nestas definições com que o Senhor Jesus nos restitui à nossa genuína natureza. O sal não tem outra função senão aquela de dar sabor à comida sobre a qual é espalhada, renunciando impor-se ao olhar dos outros. Se perde este carácter gratuito e desinteressado não serve para nada. A luz, da sua parte, não brilha senão para oferecer aos outros a liberdade de poder viver e caminhar na casa e no mundo. Com estas imagens o mestre põe um genitivo na nossa natureza. Anuncia-nos que não existimos para nós mesmos, mas que existe sempre uma direcção para a qual a nossa vida é chamada a encaminhar-se. É a sabedoria que a  viúva de Sarépta parece ter amadurecido nos seus dias, visível quando o profeta Elias a pede de poder servir-se do seu pouco manjar, suficiente apenas para ela e para o seu filho e para um dia somente.  
Esta mulher soube responder com generosidade ao apelo do profeta, porque livre do medo de perder-se e de morrer. Talvez, exactamente a experiência de ter já perdido quanto de mais caro se possa desejar na vida já tinha arrebatado do seu coração o terror de ficar com as mãos vazias. Próprio esta experiência lha fez compreender que a vida é dom, não possesso ou conquista. Por isso pôde tornar-se sal, e ser luz. 

sábado, 9 de junho de 2012

Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo




Jesus prometeu-nos estar connosco até ao fim do mundo (Mt 28,20). Ele manteve a sua palavra de tantas maneiras. Ele está connosco na sua palavra, que é sempre uma palavra viva e santa, que conduz ao Pai quem nela se confia. Ele está presente, ainda mais, no sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. E isto merece certamente uma festa. Este  sacramento nos enche, antes de tudo porque faz chegar até nós a “encarnação” do Verbo divino: Deus continua a vir para ficar. Nunca mais nos abandonará. Em segundo lugar, este sacramento nos nutre: alimenta em nós aquela vida divina que é a nossa verdadeira vida porque é eterna. Este sacramento, enfim, faz-nos ver, sob a forma de pão e vinho, aquele que os apóstolos viram, mas, como Jesus de Nazaré não era visto por todos como o Messias, o sacramento do seu corpo e do seu sangue não convence todos. Para aqueles que ficam pela aparência, tal sacramento não constitui uma prova, porque aquilo que se vê não chega. De facto vê-se somente aquilo que se deixa ver. Para o crente, isto é para aqueles que se deixam atingir pelo amor de Deus, porém, este sacramento é o maior entre os sinais, o sinal que nos põe em comunhão com o próprio Jesus.  

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Chamar as coisas pelo nome!


Nos últimos tempos a palavra crise tem estado presente em todos os discursos mais ou menos sérios que se fazem nas nossas praças, ruas e meios de comunicação social. A complicar ainda mais a situação temos assistido, quase sistematicamente, situações que metem a nu a miséria humana, para onde, aliás, a nossa sociedade se encaminha paulatinamente. Muitos dos nossos jovens vêem para o futuro com muita apreensão e dúvida. Diante destas situações, sobretudo quando vemos inocentes a morrer gratuitamente, colocamos perguntas profundas que chamam em causa as razões pelas quais eu próprio contínuo aceitar viver. Acho que cada um de nós, de vez em quando, coloca estas questões cruciais e procura as próprias “razões de vida”. Dizer sim á vida equivale a reconhecer que ela tem um significado original, tem um sentido. Intuo que este significado deve coincidir com a exigência mais profunda que sai da minha consciência: experimentar a alegria de ser amado. Sem a experiência gozosa do amor recebido e doado entendo que de mim não resta mais nada. 
No princípio de mim está o dom de uma existência que não auto-construí. Não posso negar que vivo num universo que não fui eu a construí-lo. Fui concebido, não me auto-concebi. Encontro-me inserido numa relação com um Outro que me precedeu, criou-me, amou-me e me quis. A minha primeira razão de vida é então conseguir a conhecer e a tornar-se uma só carne com Aquele que me quis criatura de carne. No diálogo com Ele, isto é, na minha primeira relação de amor, posso procurar os significados a dar a cada situação que a vida faz-me atravessar 
Acho que cada evento da minha existência seja uma pergunta à qual Deus pode dar uma resposta, a pacto que Deus conheça a minha carne. Em Jesus Cristo, Deus conheceu a nossa carne. “Jesus, sabendo que era ” (Jo 13, 1). Acolhendo a boa notícia da minha origem de criatura chamada do amor e para o amor, posso entrar no supermercado dos significados e escolher aquelas razões de vida que me permitem, como Francisco de Assis, olhar inclusive a morte chamando-a de irmã. 

NB: Esta é a abertura do Boletim Juvenil de Animação Vocacional e Franciscana EIS-ME AQUI que pode ser lido no blog: http://poco-da-palavra.blogspot.com 

sábado, 2 de junho de 2012

Santíssima Trindade!


Deus é família
Para uns, Deus é simplesmente algo de misterioso e sobrenatural. Para outros, é um velhote de barbas brancas sentado à janela do paraíso, distante e isolado do nosso mundo, quase um sem abrigo e sem família, que pede ao homem para o fazer sair da sua eterna solidão. Para outros ainda, é uma ilógica equação matemática (1+1+1=1). Porém, Deus não é uma definição, mas é vida, caminho, experiência. Deus não se explica, mas ama-se, reza-se, experimenta-se, vive-se.
Deus não é um abismo de solidão, mas é amor que não se fecha no segredo dos deuses. Deus é festa, família, dança, relação, dom. Por Jesus sabemos que o único rosto de Deus, o verbo amar, se declina em três pessoas. São três pessoas que se amam totalmente que, nós de fora, vemos apenas um, como se fosse um oceano de amor. Cada pessoa desaparece na outra. Só quando nos aproximamos é que experimentamos a diferença do Pai, do Filho e do Espírito.
Deus é comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existem e subsistem eternamente na doação recíproca e voluntária, numa comunhão perfeita e plena de vida e amor. Deus é, ao mesmo tempo, em si mesmo, Aquele que ama, o Amado e o Amor.
Paradoxo do amor
O amor tem uma aparente contradição: por amor, cada pessoa se dá e se perde, para se encontrar e realizar na outra pessoa. Deus Pai “esquece-se” e desaparece da sua glória divina para aparecer na fragilidade humana do Filho. O Filho “esquece-se” de si, na fragilidade de um Amor que se aniquilou até à Cruz, tal era o “fraquinho” do Amor de Deus por nós, para revelar o Pai. O Espírito “esquece-se” de si e esconde-se na brisa, para abraçar o Pai e o Filho.
Este é também o modo de ser de Deus para connosco: Ele morre para nos fazer viver; Ele apaga-se para nos fazer brilhar; Ele diminui-se para nos engrandecer; Ele oculta-se para nos fazer aparecer; Ele parte para nos dar o lugar; Ele afasta-se para nos responsabilizar. De Deus aprenderemos sempre a viver com os outros, para os outros e graças aos outros. É isso viver na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A dança do amor é sempre plural
O amor nunca é exclusivo, mas é sempre sem medida, ilimitado, multiplicativo. Amar é viver de Deus! É viver daquela relação que nos amou primeiro.
Ensinar a arte do amor, mostrar como o evangelho se torna vida, aprender que as pessoas não vivem sem as outras, ou contra as outras, ou acima das outras, mas que vivem com as outras, para as outras, vivificadas nas outras, é iniciar a compreender o mistério trinitário da família divina.
Caros amigos e amigas, vivei o amor, ensinai a amar, assim como se ensina uma arte que se conhece, uma estrada que abre novos horizontes, algo que já todos aprendemos porque já o recebemos de Deus. Porque isso é Evangelho!

Atualidade

O carinho do Papa Francisco que irrita muitos padres

É uma coisa maravilhosa mas, por exemplo, também João Paulo II foi à cadeia encontrar o seu assassino Ali Agca. Mas desta vez, aposto, ...

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